ELIANA KERTÈSZ & SINUOSIDADE.

Musatrip
24 de out. de 2020
3 min de leitura

Meninas do Brasil, a ruptura no imaginário no padrão estético, cultural de uma sociedade engessada.

Quem nunca se deparou com as gordinhas de Eliana, ao passar pela Ademar de Barros (Ondina), elas fazem parte do cotidiano de muitos soteropolitanos, ainda que muitos as desconheçam! Três esculturas da artista baiana Eliana Kertész, uma instalação a céu aberto, um convite para uma leitura, reflexão e observação aguçada de uma artista que expõe de forma singela corpos, que fazem parte da história deste Brasil e do Mundo; na historicidade do corpo, há dicotomias e alternâncias, o corpo feminino que muitas vezes é retratado nas pinturas ao longo dos séculos sempre foi palco para formas e volumes, das mais diversas, onde há beleza, a sensualidade, a delicadeza e a pluralidade, hoje, ao contrário de croquis, telas e quadros, somos bombardeadas por stories, feeds e fotos de corpos doentes e frágeis numa busca desenfreada por um padrão de corpo perfeito.

Escultura Cloe - Exposição Fartura e Abundância - Palecete das Artes/ Salvador-BA

Há beleza nos diversos "formatos", somos belas e únicas no corpo que pertencemos, há diferenças, somos diferentes e congêneres, no mesmo tempo! A Fatura e Abundância no dia a dia das pessoas de Salvador, elas ”as meninas do Brasil” ou no dito popular, as gordinhas, fazem uma alusão ao mito grego das 3 Graças - as Cárites (divindades da Beleza, conhecidas por espalhar alegria na natureza, no coração dos homens e até dos deuses) suas posições, revelam uma minuciosidade da artista, elas, se referem ao povos que resultou na mestiçagem que é o Brasil: Damiana, olha para o oceano em busca de sua África-mãe; Mariana, volta-se para o hemisfério norte, visando Portugal & a Catarina, aprecia o continente americano, povos nativos, isto é, NÓS.

A Exposição Fartura e Abundância, amostra vida e obra da artista Eliana Kertész, foi recebida no Palecete das Artes, Museu Rodin Bahia, no mês de Março (antes da pandemia), a artista baiana que revela, coloca em expoente de forma singela e bela, as mulheres, nessa tentativa de quebra ou de REapresentar outros modelos de beleza! A exposição foi uma homenagem a trajetória da artista, que faleceu em 2017! Uma exposição que promove uma certa interatividade com algumas obras, como a Ninoca [foto abaixo]. O responsável pela curadoria nada menos que @gringocardia, que já nos mostra um pouco do seu trabalho em alguns espaços culturais na cidade de Salvador, por exemplo, no Memorial Casa do Rio Vermelho- Jorge Amado e Zélia Gattai!

Ninoca, é uma das esculturas presente na exposição, tanto a escultura em seu tamanho original como uma ampliação da mesma, permitindo aos visitantes uma interatividade, fazer uma foto "ao lado dela' e perceber o quanto somos minúsculos, acredito que tenha sido uma possível tática da curadoria, em nos trazer a uma reflexão sobre muitas vezes o que achamos saber, ter conhecimento é só uma ponta, há muito mais pra escavar, ou seja, a nossa busca por uma idealização de corpos perfeitos, noção de beleza, estética, na perspectiva do belo é só a ponta de importantes questões e discussões acerca do imaginário feminino ou da historicidade feminina nas diversas sociedades. E se, por acaso, você tem a disposição de investigar além da ponta, sugiro a leitura de dois livros do Humberto Eco: A história da Beleza e a História da Feiura, é um panorama para além das artes.

PENSAR A RESSIGNIFICAÇÃO COM OLHOS "MUSEALÍSTICO"

As Cárites, residem no Olímpio, na companhia das MUSAS (o que depois explicarei a relação da Museologia com o templo das musas) e juntas, por vezes, formam coros. Eis aí o ponto da nossa observação. A Museologia é essa ciência presente no templo, ou seja, que se desenvolve nos museus (seus laboratórios, sempre enxerguei assim) e embora toda a ciência produzida, difundida e informada, em vários momentos e ocasiões, as Musas, precisam da ajuda das Cárites, é esse olhar gracioso, essa influência nas artes, esse tecer em harmonia, faz com que ao falarmos de patrimônio, cultura (i)material, falamos, observamos suas relações, recriamos e damos novas ressignificação ou reforçamos à historicidade, ou melhor, da Identidade de um Povo

Museu Rodin Bahia

Também conhecido por Palacete das Artes Rodin Bahia, é um museu baiano localizado no bairro soteropolitano da Graça. O primeiro e o segundo piso do museu são dedicados às coleções do escultor francês Auguste Rodin.O responsável pela idealização do museu é o artista plástico baiano Emanoel Araújo, coordenador das exposições Rodin e ex-diretor da Pinacoteca de São Paulo, numa parceria com o diretor do Museu Rodin Paris Jacques Vilain.O museu fortaleceu os laços artísticos e culturais entre a França e a Bahia e tornou-se um dos três grandes vetores das artes plásticas na Bahia, ao lado do MAB e do MAM-BA.